Travessuras da Menina Má



Uma leitura que me parecia despretensiosa, afinal os livros da história e sua academia vinham me afastando de outras leituras nos últimos tempos. Numa informal ida a um sebo qualquer pergunto por um livro de história e o vendedor prontamente responde que não tem, mas que tem outros livros em promoção. Agradeço e dou um passo de partida, porém um encontro de olhares me faz ficar: Travessuras da menina má. Um romance que me chamou. Prontamente o comprei e logo mergulhei nessa obra me reencontrando com a leitura mais bonita e mais prazerosa. Ao começar essa aventura relembrei que a leitura de alguns romances parecem de te abraçar, te dar as mãos e caminhar contigo por todo o enredo do livro. Não precisei ir a Paris revolucionária dos anos 60 ou a Londres dos anos 70 época da cultura hippie e do amor livre para senti-las; Llosa as trouxe pra mim de forma doce e gostosa através dos amores e desencontros de Ricardo e Lily. Chilenita, a personagem amada por anos e continentes, nos desperta, ao decorrer da obra, sentimentos confusos a todo instante: uma hora a amamos outra a odiamos. Numa história que começava no Peru, em um período de conflitos políticos e tantos problemas sociais, não imaginaria encontrar Ricardo, seu sonho de ser intérprete, de ir a Paris e a sua travessa amada, Lily. Caminhando no texto de Vargas seguimos sorrindo e chorando com Ricardo e suas esperas e procuras pela menina má. Desde as festinhas na infância às fugas da fase adulta; dos encontros na agitada Tókio aos beijos nas pacatas cidades do interior da Europa; Nosso autor consegue, na medida em que impõe várias situações de distancia aos protagonistas, nos aproximar quase de maneira particular de cada um deles e, ao final por conhecer o universo interior de cada personagem, conseguimos nos encantar com as essências dos dois juntos. Esse romance, com descrições tão rebuscadas, cenas tão empolgantes e que se passa da infância à quase senilidade dos personagens, transcorre dentro de um século de revoluções, amores, encontros e muitas despedidas. Governos autoritários, ideologias que não conseguiram realizar revoluções e as novas condições de relações fazem parte do pano de fundo na nossa história. Esse caminho faz com que os personagens, assim como nosso tempo remoto, abracem os continentes, as línguas estrangeiras, as diversas formas de se apresentar um romance cosmopolita e ao mesmo o modelo do romântico exacerbado, que se torna a mais doce figura dessa obra. As travessuras enunciadas no livro já em seu título são os condutores do nosso romance. Através de tanta identificação e apreço penso se essas, muitas vezes, não seriam caminhos que poderíamos passar que gostaríamos de fazer, de simplesmente vivê-las. Um livro, uma obra, uma grande arte. Não seria tão lindo se a Chilenita fosse uma boa menina. Ivan Lima - Junho de 2013

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